sexta-feira, 28 de outubro de 2011

insustentável beleza...


Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza,
porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

 Alberto Caeiro

indiferença

Lembram-se da famosa citação dos anos 30?...

 “ Primeiro prenderam os comunistas,
E eu não disse nada porque não era um comunista.
A seguir prenderam os judeus,
E eu nada disse porque não era um judeu.
Logo vieram pelos operários,
E eu nada disse porque não era nem operário nem sindicalista.
E então meteram-se com os católicos,
E nada disse porque eu era protestante.
E quando, finalmente, vieram por mim,
Já não restava nada para protestar. “

Podemos aplicá-la ao nosso pobre país…

Primeiro fecharam algumas estações do caminho-de-ferro, e nada dissemos
porque não precisávamos,
depois reduziram as carruagens,
logo a seguir fecharam as linhas férreas, e construíram muitas  auto-estradas, e
ficamos contentes…e os economistas embevecidos,
a seguir deram-nos dinheiro para abater barcos e deixar de produzir,
havia de tudo nos hipers,
ficamos contentes e calados... e os grandes grupos económicos felizes,
depois, como não havia casas nem carros para todos, emprestaram-nos
 dinheiro a juros baixos, e ficamos alegres… e os banqueiros sorridentes,
agora, tiram-nos os rios para colossais barragens de duvidosa utilidade,
e nada dizemos…e os políticos satisfeitos,
finalmente…. quando nos tirarem a alma
será ….muito  tarde para reagir…e o país ficará espúrio e errante... 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

frases simples ...

Jerónimo de Sousa é um político simpático para a generalidade dos portugueses.
Independentemente das suas opções  ideológicas é um homem recto, do povo, firme nas suas convicções, abnegado e lutador. No debate, na Assembleia da República, sobre o Orçamento afirmou duma forma assertiva  que o primeiro ministro" não sabia o que era a vida."
Este, aturdido, reagiu com dificuldade. Esta  frase simples, muito popular tem uma uma força telúrica própria da simplicidade dos povos.Na generalidade os nossos políticos não sabem o que são as agruras da vida.Provenientes das camadas sócio-económicas mais previligiadas , estribando-se nas estruturas partidárias, vão tomando conta do Estado e repartindo os benefícios pelos seus apaniguados. Eles não sabem o que é a vida do povo, mas sabem muito bem a vida que têm e que querem perservar.

domingo, 9 de outubro de 2011

a força do olhar


Olhar simplesmente, por vezes é doloroso:

É como cinzelar uma escultura na sua parte final; é como aquela pincelada dúbia e incerta na tela que gostamos muito; é como lavrar a terra onde florescem árvores férteis que adoramos; é tão doloroso como enfrentar uma página de branco lancinante que se esboroa num ápice sem torrentes nem ideias ; é como o padecer da águia no cimo da montanha para reiniciar novo ciclo de vida ; é como a turbulência das águas que apaziguam no alto mar; é como o esforço das abelhas no transporte do pólen ; é como caminhar com a certeza de nunca chegar….

ciclo...

O caminho faz-se caminhando! O futuro constrói-se hoje alicerçado no passado...varias gerações percorrem o mesmo caminho ... as árvores essas estão lá ...sempre... com o seu perfume ...com o seu aroma...com a sua dignidade ...sempre de pé...

sábado, 8 de outubro de 2011

mãe


 gosto de poesia : da grandeza do pessoa , da musicalidade do eugénio de andrade, do telúrico torga,da serenidade de sofia ,da impulsiva natália  mas tu mãe , és o cálice da flor que enebria o meu ser .

doce neblina...

 desde o  vale à montanha, da marginal do rio à frescura das ribeiras, dos inóspitos riachos que serpenteiam as serras até às profundezas dos mares, das flores silvestres que inebriam os nossos sentidos, tu és a luz do luar refletida na manhã calma e serena que  apazigua e reconforta a nossa alma.

domingo, 2 de outubro de 2011

rio Irrawaaddy salvo

Governo autoritário birmanês cedeu à constestação popular gerada pelos planos de construção da barragem hidroeléctrica Myitsone.
As críticas uniram ambientalistas à  etnia kachin visto que tinham de ser deslocadas 60 aldeias, devido à construção da  barragem.
O rio Irrawaddy é considerado o berço da povo birmanês e da sua civilização.
Perante um Governo Democrático não fomos capazes de salvar o Rio Sabor. Dói...

nova margem

O significado aqui de margem é abrangente: a margem do rio, a margem do papel branco, a margem do poder, a margem da vida, a margem de mim, a tua margem, a margem do finito.
Fernando Pesooa disse num seu poema que o rio não pode esconder que corre. E as margens do rio caudaloso de Pessoa podem-se esconder? Nesta margem onde criei raizes, continuam a deslizar os pequenos riachos impregnados de sonhos adiados, onde a frescura das neblinas envolvem as lutas diarias feitas de esperança, amarguras, sorrisos e desânimos, seiva sempre presente no fio de luz derramado exactamente no mesmo minuto de todos os dias, naquela oliveira milenar!
Ainda a margem dos dias e das noites, a margem daquela criança sem tempo de ser criança, a margem sem direito a ter margem. Qual a outra margem? Há sempre uma outra Margem ...Perscrutar a outra Margem ,sentir outra maresia, ouvir outros sons, remar é preciso...para a outra Margem, apesar da certeza do afogamento das margens do Sabor.

A energia do nosso contentamento


A procura desmesurada da energia tem consequências venais para as próximas gerações.

Depois do carvão, do petróleo, do gás, do urânio chegou a vez da água. Os rios são agora sacrificados perante o altar do consumismo. O rio Sabor, lindo, selvagem vai brevemente ser imerso e correr ao contrário….

Rio Sabor


nascido em espanha, rápido sulca as fragas esverdeadas do nordeste e no seu serpentear ora subtil ora agreste, atravessa lugares inóspitos, montanhas pedregosas onde insinua neblinas matinais, emergentes do esvoaçar da águia real cuja majestade marca presença celeste, e molda a geografia de uma região . Este é o rio da nossa matriz transmontana, o rio que moldou toda uma região, cujas águas amenizaram o sangue, suor e lágrimas dos nossos avós. Este é o rio livre, selvagem que vai deixar de ser.