quarta-feira, 1 de abril de 2020

Patti Smith

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Patti Smith

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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Arvo Part


Os três alunos pobres da turma...


Era uma vez uma turma com dezanove alunos. Quinze desses alunos eram muito ricos. Um dos alunos era considerado remediado e três eram muito pobrezinhos!
O professor da turma era dotado duma particularidade: tinha três cabeças! Pensar com uma cabeça já é difícil, agora pensar com três é um autêntico quebra cabeças...No essencial, este professor, muito disciplinado e organizado, reflectia as orientações metodológicas dos donos dos colégios universais.
Do grupo dos quinze alunos muito ricos, emergia um super-dotado, com uma capacidade de raciocínio aliada a uma capacidade de realização notáveis.Alto, loiro, de olhos azuis de origem germânica, exercia um fascínio sobre toda a turma.O próprio professor submetia-se à suas exigências, seguindo as suas recomendações e orientações.
Os três alunos pobrezinhos viviam horas difíceis. A sua adaptação a um grupo tão sofisticado e exuberante, era uma tarefa árdua. As agruras do meio contribuíam fortemente para uma baixa auto-estima. A subserviência era a maneira prática dos pobrezinhos sobreviverem e de serem aceites pelos colegas muito ricos! O desdém da turma para com os seus colegas da periferia, pobres e preguiçosos era aviltante. Exigiam regras comportamentais duras, vexatórias e lesivas da suas própria dignidade.
Um dos pobrezinhos, de origem helvética, num assomo de revolta, disse em voz alta " Basta!" .
Todos se entre-olharam, o professor entrou em pânico, os meninos ricos pasmaram com a desfaçatez do indigente! O aluno sobre-dotado vociferou " Não há mais dinheiro para o pobre"!.
Os outros dois pobrezinhos, de origem ibérica, contra o que era expectável,zombaram e riram-se com desprezo do helvético.Dotados duma fidelidade canina, fartos de serem pobres alinharam com os ricos, e opuseram-se com tenacidade contra os desvarios do colega helvético.
A comunidade ibérica ruborizou de vergonha. Os seus dois bons alunos tinham ficado de cócoras!!

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Eu sou Syrisa

 O Partido Syrisa, ao conquistar o Poder na Grécia, por via eleitoral,de forma inquestionável, constitui uma verdadeira pedrada no charco!
Sufocados pela via única da austeridade, comandados pelos governos do centro da Europa, a eleição clara e inequívoca do Syrisa pode não ter sucesso, mas é um autêntico balão de oxigénio para todos os povos do sul da Europa.Na vida nunca há apenas um caminho, eis a mensagem do povo grego!

domingo, 6 de julho de 2014

Judas Iscariote



Nunca compreendi a queima do Judas, praticada por algumas comunidades católicas, e a jocosidade subjacente. Desde muito novo nutri uma certa compaixão e admiração por este apóstolo maldito!
Judas Iscariote, como homem simples e bom, foi um dos doze apóstolos escolhidos de Jesus de Nazaré, para o Seguirem e espalharem a sua Mensagem.
Segundo as escrituras, o Messias seria traído por um dos seus seguidores. Iscariote, a troco de trinta moedas de prata, entregou Jesus aos Fariseus, denunciando-O com um beijo. Estes, com o apoio do povo Judeu, cruxificaram Jesus no Monte Calvário!
Nesse mesmo dia, depois de ter recebido as trinta moedas de prata como recompensa da traição, estas queimando-lhe as mãos e atormentando-lhe a alma, Judas, depois de lançar  as moedas  ao rio , enforcou-se! Esta traição, esteve na origem da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, festa da Páscoa , principal celebração da Igreja Católica.
O que pretendo relevar em Judas é a sua dignidade e honra como expiou o seu pecado!
É tempo de resgatar Judas Iscariote definitivamente da escuridão das trevas.
Nos dias de hoje, as traições não mais provocam tormentos de alma, as trinta moedas não são atiradas ao rio, mas depositadas em bancos com elevadas taxas de rendibilidade e parte-se tranquilamente de férias para um resort luxuoso.

A Estação de Comboios de Mirandela




Este , outrora belo,  edifício da Estação dos caminhos de ferro de Mirandela, encontra-se em acelerado estado de  deterioração . Não é compaginável com a bonita cidade de Mirandela. O seu restauro é uma necessidade não só decorrente da preservação intrínseca do património edificado, mas também pela simbologia inerente a esta Estação. Foi aqui que teve origem a famosa marca “ Alheiras de Mirandela”. Gostaria que continuasse a ser a Estação dos Comboios. Mas, dado o infeliz abandono a que foram votadas as linhas férreas, a linha do tua  era uma das mais belas da europa,  fica uma sugestão : reconverter a Estação num belo museu da “ Alheira de Mirandela”.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

desertificação

Este governo, na linha do anterior, continua a fechar escolas do 1º ciclo.
A escola de Chacim- Macedo de Cavaleiros, está para fechar.
Depois das linhas férreas, dos centros de saúde, dos tribunais, das repartição de finanças, dos correios,   está na hora das escolas públicas do 1º ciclo. Que configura esta estratégia de esvaziar o território de pessoas? Que respostas concertadas têm os autarcas do nosso distrito? Qual a sua visão estratégica de desenvolvimento sustentado?

Chacim, freguesia com pergaminhos históricos importantes, dotada de ensino privado até ao 9º ano de escolaridade, não devia  ser  privada de ensino público do 1º ciclo!

terça-feira, 23 de julho de 2013

o rio da minha aldeia...

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que nele está,
A memória das naus.

O Tejo desce  de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no no que há para além
Do rio da minha aldeia.



O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

alberto caeiro
 

terça-feira, 16 de julho de 2013

itinerários: minha chegada a macedo de cavaleiros


Cheguei a Macedo de Cavaleiros de comboio. Tinha 25 anos. Na estação, os canteiros cuidados e floridos, pareciam estar ali propositadamente para saudar, com os seus suaves e inebriantes perfumes, os passageiros desembarcados. De fronte vislumbrei uma imponente e majestática serra. O apito lancinante da locomotora, despertou-me do fugaz encantamento. A mala que transportava pareceu pesada demais. O comboio retomou a sua marcha lentamente, sujeitando os carris a um ranger forte e dorido, rumo a outras paragens  como se despedisse de mim. Fiquei só por uns momentos. Linda aquela serra!

Bornes é o seu nome, vim a saber mais tarde. É pesada a minha mala. Anteriormente não tinha notado. Para além das roupas, talvez o mais pesado fossem os sonhos que secretamente carregava junto dos meus inseparáveis livros. A viagem do Porto até ao Tua tinha sido encantadora, mas o troço em linha estreita do Tua até Macedo de Cavaleiros foi deslumbrante! A respiração fica suspensa com tamanha beleza. Esplendorosa paisagem que apazigua a nossa alma. Notável o telúrico esforço daqueles nossos antepassados que esventraram e perfuraram as fragas, tornando possível a colocação da linha férrea. Lindo o rio, serpentando as colinas, lá ao fundo, adornado por amieiros, freixos e salgueiros. Hoje, a linha férrea jaz moribunda e abandonada, para nosso opróbrio. No início dos anos oitenta, quando o governo de então, desenhou o seu encerramento, escrevi um texto que originou um abaixo-assinado com centenas de assinaturas contra o seu encerramento. Debalde, a linha foi encerrada, o alcatrão venceu. Até agora…Os autarcas da região agrilhoados a critérios político-partidários, ficam indelevelmente ligados a esta infausta e funesta decisão…
No centro da vila, junto ao edifício da Câmara Municipal, encontrei a pensão Flórida. Permaneci duas noites nesta pensão até me hospedar numa casa particular. No dia seguinte apresentei-me na Escola Preparatória, funcionava onde hoje se ergue o Edifício Translande. Gostei da Escola. Adaptada, funcional e simples. A minha estreia como professor foi seguida com interesse pelos colegas mais velhos. Incentivaram-me, deram-me alguns conselhos, irradiavam entusiasmo na arte de ensinar. Depois da minha primeira aula, esperaram-me no corredor para saber como tinha decorrido. Gesto bonito e reconfortante, que me sensibilizou e nunca mais esqueci. A maioria dos meus primeiros alunos era da aldeia. Tinham bastantes carências ao nível social, económico e cultural, mas eram dotados duma simplicidade comovente. Eram humildes e afectuosos, generosos e obedientes. O aprumo e a higiene, requeriam alguns cuidados. Muitas vezes não tomavam o pequeno-almoço em casa. Os professores responsáveis pela direcção rapidamente atalhavam estas situações. Todos os professores estavam atentos e a solidariedade não era uma palavra inócua. Nos intervalos, de repente, já se jogava xadrez e damas em torneios organizados por professores e alunos. Aos meus, que se destacavam no confronto com os outros, oferecia livros. O entusiasmo e a alegria polvilhavam o ambiente escolar.
Com o decorrer do tempo, conheci o Presidente da Câmara, no seu estabelecimento comercial. Era uma espécie de lugar de tertúlia! Ali se juntavam comerciantes, professores, advogados, agricultores, e povo em geral. Como era fácil encontrar e dialogar com o Presidente da Câmara! Ao contrário dos grandes centros, que ninguém conhecia ou sabia quem era o Presidente, aqui, ao virar da esquina, cumprimentava-se o Presidente. Para todos, tinha uma palavra amiga de conforto e esperança na resolução daquele problemazito pessoal que por vezes lhe era colocado. Era uma pessoa boa o Presidente. Recordo com saudades as conversas misturadas com a venda de botões, alfinetes e peças de vestuário medidas a metro, e cruzadas com as perspectivas entusiásticas da construção do novo hospital e da barragem do Azibo, obras emblemáticas do Presidente Pescadinha e estruturalmente marcantes para o desenvolvimento de Macedo de Cavaleiros. Recordo um episódio, peculiar da sua personalidade, quando já exercia funções na câmara em regime de avença. Ao sair dum gabinete, deparo-me com uma senhora, vestida de preto, com ar sombrio e triste. Interpelei-a no sentido de tentar compreender a razão da sua amargura. Pretendia prolongar a sala de sua velha casa, devido à existência de humidade que a afligia durante anos, construindo três paredes em cima do logradouro. A informação técnica do arquitecto, e de acordo com as normas em vigor, devia apresentar um projecto de arquitectura quer de toda a casa existente, quer da parte nova a construir. Esta exigência normativa, implicava uma despesa na ordem dos 100 a 150 contos, completamente fora do alcance desta senhora de Lagoa. Subi ao piso superior, em direcção ao gabinete do Sr. Presidente. Expus-lhe a situação.

De imediato, chamou o Jorge, funcionário da secção de Obras e solicitou que se fizesse acompanhar do processo da senhora. Leu a informação técnica atentamente e exarou o despacho “ Apesar da informação técnica, emita-se a licença de obras”. Gesto bonito e cheio de generosidade.  impossível nos dias de hoje.
Mas as relações entre a Câmara e as juntas de freguesia estavam inquinadas pela partidarite, resultante do sistema eleitoral vigente, que visa eleger não os melhores, mas os carreiristas filiados em partidos políticos, apostados em melhorar o seu modo de vida em detrimento das populações que dizem representar. Sempre manifestei discordância  à formalização de listas partidárias ao nível das eleições para as freguesias e até mesmo para a Câmara Municipal. Não faz sentido dividir as pessoas, idóneas, competentes e com o sentido cívico forte de servir as populações, através da compartimentação de listas partidárias. O conceito de esquerda versus direita não faz qualquer sentido neste tipo de eleições. Lembro-me de quando estava no serviço militar, numa acalorada assembleia de militares, no ano de 1975, um Sargento-Ajudante, tomar a palavra e questionar “ … estamos para aqui fartos de falar em esquerda e em direita, mas gostaria que me esclarecessem: afinal o que é a esquerda e o que é a direita? “ Silêncio absoluto. O oficial miliciano que estava na mesa a moderar a reunião solicitou: “ alguém pretende responder ao Sr. Sargento-Ajudante? “ Silêncio novamente. Ninguém ousava tomar a palavra. Repentinamente dirigi-me à mesa disposto a responder à pergunta. Ao olhar para a assembleia de militares, fiquei aturdido. Quase quinhentos militares à espera do meu contributo.
O meu coração batia com tanta intensidade que parecia saltar-me do peito. Com tanta ansiedade não iria conseguir articular qualquer tipo de ideia. Tinha 22 anos. A minha experiência política era nula. Resumia-se à leitura de meia dúzia de livros de ciência política. Grande sufoco! Que raio de ideia tive. Estava ali tão bem sentado! Respirei fundo algumas vezes. Até que … disse “…o conceito de esquerda e direita tem origem nos primórdios do parlamentarismo inglês.
 Os deputados representantes das elites privilegiadas financeiras, do capitalismo industrial e dos grandes proprietários sentavam-se no lado direito do parlamento. Os representantes das camadas mais desprotegidas da população, dos trabalhadores assalariados, sentavam-se do lado esquerdo do parlamento. Assim, os partidos da direita,  agora constituídos, na sociedade portuguesa, tenderão a representar os interesses das elites que sustentaram o antigo regime, os partidos da esquerda tenderão a representar os interesses do povo português, que se encontrava amordaçado e desprovido dos mais elementares direitos de cidadania ”. Uma estrondosa salva de palmas permitiu-me descortinar o lugar onde estava sentado. Uf! Que alívio---



sexta-feira, 1 de março de 2013

A mulher dos meus sonhos...

...naquele dia o rio estava com um caudal  forte e agitado.
Numa das suas margens envolta em claridade matinal estava eu.

Na outra margem, num  nevoeiro inusitado  e indefenido  estava uma linda  mulher  num  bonito vestido branco. Apesar das águas revoltas  e da forte corrente entro num barco disposto a atravessar o rio em sua direcção. A bonita mulher observa atentamente num ponto alto da outra margem.
Remo forte, mas o barco não se desloca para a outra margem. Apesar de mais e mais fortes e contínuas remadas o barco não consegue vencer a distância que separa as duas margens.
Exausto, observo que a mulher encantadora, muito elegante vira as costas e desaparece calmamente por entre os pedaços de nevoeiro.
Remo, remo e remo mais mas não consigo... acordo ofegante!
Sempre fui um bom remador, desde muito novo que remo muito bem ,mas sempre com rumo incerto...e sem porto de chegada...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A auto-estrada transmontana e o convento de stª Clara

Na sequência dum artigo de um  transmontano de Moncorvo, publicado no jornal " Publico" , que defendia que o restauro do Convento de Santa Clara de Vila de Conde  poderia ter sido feito através da verbas gastas na construção da autoestrada de Trás-os-Montes, reagi , tendo o jornal tido a fineza de  publicar a minha reação.

domingo, 19 de agosto de 2012

Hino de Amor à Natureza


O Chefe Seattle, que viveu entre 1786 e 1866, era o líder das tribos Duwamish e Suquamish, que viviam no território do que hoje é o Estado de Washington, nos Estados Unidos da América.
Chefe Seattle.jpg
Ele era um indígena, com certeza, o mais inteligente entre o seu povo, para lhe ter sido concedida a honra (naquele tempo os Homens ainda tinham honra) de dirigir os destinos das suas tribos.

Seattle não estudou na universidade dos homens, no entanto era daqueles que via para além do visível. Era um Homem que pensava com todos os seus sentidos e sentia com toda a sua razão.

Para ele, a ignorância do homem branco era incompreensível: por que exterminaria os búfalos? Por que domaria os cavalos selvagens? Por que encheria os locais recônditos das florestas com a respiração de tantos homens? Por que mancharia a paisagem exuberante das colinas com fios falantes? Onde estava o matagal? Onde estava a água?

Na verdade, a vida para um ser pensante é algo de muito sagrado, de muito autêntico, de muito natural; é algo que faz parte integrante da harmonia e do equilíbrio cósmicos, mistérios apenas compreensíveis aos grandes espíritos.

O Chefe Seattle era um desses grandes espíritos. Um indígena cuja universidade foi a sua própria inteligência, a sua intuição de ser humano, a sua percepção de um mundo do qual ele era parte integrante, e tudo o que se fizesse de mal contra esse mundo, destruiria o próprio homem.

Ficheiro:Franklin Pierce.jpgNaquela época, o governo americano, presidido por Franklin Pierce, 14.º presidente dos EUA, considerado um dos piores presidentes da história deste país, teve a intenção de comprar o território pertencente àquelas tribos.

Em 1854, o Chefe Seattle dirigiu-lhe, então, as palavras que aqui se transcreve, consideradas o mais belo hino de amor à Natureza, de uma lucidez rara, para quem se dizia apenas um selvagem que nada compreende. Porém, apenas um “selvagem” teria esta percepção da Vida.
E porque a carta é de uma actualidade perturbadora, eis o seu conteúdo:

O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, e assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil da sua parte, até porque sabemos que ele não precisa da nossa amizade.

Vamos, porém, pensar na sua oferta, pois se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.

A minha palavra é como as estrelas: não empalidecem.

Como podeis comprar ou vender o céu ou o calor da terra? Tal ideia é-nos estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou da refulgência da água, como podeis então comprá-los? Cada quinhão desta terra é sagrado para o meu povo; cada folha radiosa de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e insecto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do pele-vermelha.

O homem branco esquece a sua terra natal, quando, depois de morrer, vagueia por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta terra formosa, pois ela é a mãe do pele-vermelha. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. Os cumes rochosos, os eflúvios da planície, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem, todos pertencem à mesma família.

Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar a nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar onde possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a vossa oferta de comprar a nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.

Esta água cristalina que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas também o sangue dos nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de vos lembrar que ela é sagrada e tereis de ensinar aos vossos filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os feitos e as recordações da vida do meu povo. O rumorejar da água é a voz do pai do meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam a nossa sede. Os rios transportam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos. Se vos vendermos a nossa terra, tereis de vos lembrar e ensinar aos vossos filhos que os rios são irmãos nossos e vossos, e tereis de conceder aos rios o afecto que daríeis a um irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um quinhão de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é vossa irmã, mas sim vossa inimiga, e depois de a conquistar, partis, indiferentes, deixando para trás os túmulos dos vossos antepassados. Arrebatais a terra das mãos dos vossos filhos e não vos importais. Esquecidos ficam as sepulturas dos vossos antepassados e o direito dos vossos filhos à herança. Vós tratais a vossa mãe (a terra) e o vosso irmão (o céu) como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou missangas resplandecentes. A vossa voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.

Não sei. Os nossos costumes diferem dos vossos. A visão das vossas cidades causa tormento aos olhos do pele-vermelha. Mas talvez tal aconteça por ser o pele-vermelha um selvagem, que nada compreende.

Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há um lugar onde possa ouvir-se o desabrochar da folhagem na Primavera ou o vibrar das asas de um insecto. Mas talvez assim seja por eu ser um selvagem que nada compreende; o ruído parece apenas insultar os ouvidos. E que vida será a de um homem que não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, à noite, a conversa dos sapos em volta de um pantanal? Sou um pele-vermelha e nada compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento a pairar sobre uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.

O ar é precioso para o pele-vermelha, porque todas as criaturas o partilham: os animais, as árvores, o homem.

O homem branco parece não compreender o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se vos vendermos a nossa terra, tereis de vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha o seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se vos vendermos a nossa terra, devereis mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, cingido pela fragrância das flores campestres.

Desse modo, vamos, pois, considerar a vossa oferta para comprar a nossa terra. Se decidirmos aceitar, colocarei uma condição: o homem branco deverá tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.

Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de búfalos apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco, que os abate a tiros disparados do comboio em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o búfalo que nós, os índios, matamos apenas para nos alimentarmos.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.

Deveis ensinar aos vossos filhos que o chão que pisamos são as cinzas dos nossos antepassados. Para que tenham respeito pelo país, contai aos vossos filhos que a riqueza da terra é a vida da nossa família. Ensinai aos vossos filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é a nossa mãe. Tudo quanto fere a terra, fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.

De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a teia da vida: ele é meramente um fio dessa mesma teia. Tudo o que ele fizer à teia, a si próprio o fará.

Os nossos filhos viram os seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo ociosamente, envenenando o corpo com alimentos adocicados e bebidas embriagantes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias, eles não serão muitos. Mais algumas horas, menos uns Invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos os sonhos do homem branco; se soubéssemos quais as esperanças que transmite aos seus filhos, nas longas noites de Inverno; quais as visões do futuro que oferece às suas mentes, para que possam formular desejos param o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós um enigma, e por serem um enigma, temos de escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez possamos viver os nossos últimos dias conforme os nossos desejos. Depois que o último pele-vermelha tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar sobre as pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe.

Se vos vendermos a nossa terra, amai-a como nós a amamos. Protegei-a como nós a protegemos. Nunca esqueçais de como era esta terra quando dela tomastes posse. E com toda a vossa força, o vosso poder e todo o vosso coração, conservai-a para os vossos filhos, e amai-a como Deus nos  ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, e esta terra é por Ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar este nosso destino comum.

Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode evitar este destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver. De uma coisa sabemos, e talvez o homem branco venha, um dia, a descobrir também: o nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgueis, agora, que O podeis possuir do mesmo modo que desejais possuir a nossa terra. Mas não podeis. Ele é Deus da Humanidade inteira, e a Sua piedade é igual para com o pele-vermelha como para o homem branco. Esta terra é amada por Ele, e causar dano à terra é desprezar o Seu criador. Os brancos vão também acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuais a poluir a vossa cama e haveis de morrer uma noite, sufocados pelos vossos próprios desejos.

Porém, ao perecerem, vós outros caminhais para a vossa destruição rodeados de glória, inspirados pela força de Deus que vos trouxe a esta terra e que, por algum especial desígnio, vos deu o domínio sobre ela e sobre o pele-vermelha. Esse desígnio é para nós um mistério, pois não entendemos por que exterminam os búfalos, domam os cavalos selvagens, enchem os locais recônditos das florestas com a respiração de tantos homens, e mancham a paisagem exuberante das colinas com fios falantes. Onde está o matagal? Destruído. Onde está a água? A desaparecer. Restará dizer adeus às andorinhas e aos animais da floresta.

Este é o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência.

***

A maioria do território das tribos do Chefe Seattle foi adquirida através da assinatura do Tratado de Point Elliot. Estes povos ficaram confinados à Reserva Indígena de Port Madison.


terça-feira, 15 de maio de 2012

O ALQUEIRE


A história do alqueire confunde-se com a história do país. É um símbolo de identidade, de auto-afirmação, de organização, de querer, de modus vivendi. A sua existência é anterior à nacionalidade.
Com a conquista do território aos árabes, adquiriram-se também os seus modos, usos e costumes. A forma de medir a quantidade dos cereais era através duma medida chamada alqueire. No reinado de D. Afonso Henriques, utilizou-se o alqueire exactamente de acordo com a medida usada já  pelos arábes, que correspondia a 3,5 litros de cereal. A sua utilização generalizou-se pelas diferentes regiões do reino, no entanto cada localidade adaptou-o de acordo com a sua organização social, cultural e económica.Tentou o nosso 1º Rei, uniformizar o alqueire em todo o reino, mas não conseguiu. Foi mais fácil vencer os mouros do que padronizar as medidas do alqueire.
Sucederam-se outros reis, tais como D. Afonso IV que decretou que o alqueire deviria corresponder a 8,7 litros em todo o reino, mas  cada região teimosamente usava o seu alqueire. D. Pedro I o justiceiro, alterou o alqueire para 9,8 litros, mas de igual modo não conseguiu impô-lo. Seguiu-se a Reforma Manuelina com o seu alqueire já nos 13,1 litros, mas o povo não cedia. Cada local tinha o seu alqueire e não havia nada a fazer. Mesmo depois do terramoto de 1755, o marquês de pombal alinhou com o alqueire usado em Espanha, mas também resultaram infrutíferas as suas tentativas da aplicação a todo o país. Seguiu-se a tentativa da República e o Estado Novo, mas debalde.
 É que o alqueire foi também usado como medida de superfície, e esta era medida de acordo com a semente que levava um alqueire, que era espalhada no terreno.Cada vila do reino tinha a sua forma de medir os terrenos e mexer nisto, era como tocar na alma do povo. Conforme a região o alqueire podia medir entre 13 litros a 19 litros. As populações deslocavam-se para comprar sementes, às vilas aonde fosse maior o alqueire.O preço do alqueire pouco ou nada  variava entre localidades, a medida é que era diferente.
Nem mesmo o sistema métrico ofuscou o alqueire. Finalmente este cedou , por imperativos comerciais ditados pela conquista de outros mercados, ao sistema internacional .O alqueire,  como outras medidas agrárias, estavam assim indissociávelmente ligadas à vida da gentes rurais. Curioso foi o episódio, protagonizado por um senhora duma aldeia de tras-os-montes, vestida de negro com lenço e um feixe de lenha à cabeça, indagada por um jornalista vindo da capital,  se ela ia votar na assembleia constituinte, decorria então o ano de 1976. Ela respondeu afirmativamente. -E sabe o que é a assembleia constituinte ? retorquiu o jornalista.-Eu não senhor, não sei ! disse a senhora.
- E o senhor sabe o que é o alqueire? atirou mortífera a aldeã.