domingo, 11 de dezembro de 2011

fado português - património imaterial ...

Cortiços é uma bonita aldeia transmontana. Possui um lagar de azeite ancestral, cujos propriétários, depois duns retoques de renovação decidiram abri-lo ao público. Como eram difícies os processos de fabrico do azeite naqueles tempos passados. Lá estão as pedras cilindricas puxadas pela força animal,  os utensílios , os caminhos da massa triturada  que depois de prensada e misturada com a água quente dava lugar ao precioso azeite. Eram duros termpos. Nas paredes , várias  fotos do lagar e  dos familiares do propriétario. Discretamente uma foto dos familiares dum  dos lagareiros. Achei simpático por parte dos herdeiros colocarem esta foto. São estas pessoas simples que ergueram as grandes obras que hoje admiramos. Lembrá-las é um gesto humilde de as homenagearmos. Foi este povo simples, com esforço e sacrifício, sem direitos, nem recompensas, sem meios para educar os seus filhos, ganhando apenas para sobreviver que ergeu o património do alto douro vinhateiro e de todo o  trásosmontes. Esta é a força imaterial que tendemos a esquecer,   é o nosso verdadeiro património português, este é o  fado português que a Unesco ainda não reconheceu , devido ao esquecimento atávico das elites políticas e quesandas...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

a consciência pesada da edp...

no dia 17  de Novembro, a edp levou a efeito, em Macedo de Cavaleiros,  uma jornada denominada  " Empreendorismo e Dinamismo empresarial Sabor 2011".  Na abertura deste encontro o seu representante começou por afirmar que a edp,  " para sossegar a sua consciência podiaria ter dado um cheque generoso às populações afectadas pela construção das barragens do sabor e do tua, mas, ao invés, preferiu levar a efeito estas jornadas no sentido de promover o empreendorismo visando desenvolver esta região ". Esta afirmação prima pela sua transparência cristalina. Qual a razão desta má consciência da edp? Gostaríamos de ter interpelado o seu representante, mas a organização das jornadas devido ao extenso leque de intervenções arrastou de forma desnecessária e improfícua os trabalhos.  Mas quais  serão as verdadeiras  razões da  intranquilidade da edp ?  No distrito de Bragança foram construidas cinco barragens para a produção de energia eléctrica , três  na década de 60 e duas na década de 80 do século passado. Que desenvolvimento se registou na região?   No que concerne ao crecimento económico estamos abaixo da média nacional . Que garantias existem que a região irá crescer depois da construção das barragens do sabor e do tua?  irá desenvolver-se devido à aplicação duma tarifa especial   do kwh   ? será através do abastecimento de bens alimentares da região aos seus estaleiros, como pretendem fazer? quais serão  as profundas razões da consciência pesada da edp, que numas jornadas de charme, pretendem dar uma imagem de preocupação com o desenvolvimento das populações? Os motivos que subjazem a  este marketing promocional a favor do desenvolvimento da região, são as malfeitorias ambientais que vão irremediavelmente condicionar as gerações vindoiras.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

insustentável beleza...


Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza,
porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

 Alberto Caeiro

indiferença

Lembram-se da famosa citação dos anos 30?...

 “ Primeiro prenderam os comunistas,
E eu não disse nada porque não era um comunista.
A seguir prenderam os judeus,
E eu nada disse porque não era um judeu.
Logo vieram pelos operários,
E eu nada disse porque não era nem operário nem sindicalista.
E então meteram-se com os católicos,
E nada disse porque eu era protestante.
E quando, finalmente, vieram por mim,
Já não restava nada para protestar. “

Podemos aplicá-la ao nosso pobre país…

Primeiro fecharam algumas estações do caminho-de-ferro, e nada dissemos
porque não precisávamos,
depois reduziram as carruagens,
logo a seguir fecharam as linhas férreas, e construíram muitas  auto-estradas, e
ficamos contentes…e os economistas embevecidos,
a seguir deram-nos dinheiro para abater barcos e deixar de produzir,
havia de tudo nos hipers,
ficamos contentes e calados... e os grandes grupos económicos felizes,
depois, como não havia casas nem carros para todos, emprestaram-nos
 dinheiro a juros baixos, e ficamos alegres… e os banqueiros sorridentes,
agora, tiram-nos os rios para colossais barragens de duvidosa utilidade,
e nada dizemos…e os políticos satisfeitos,
finalmente…. quando nos tirarem a alma
será ….muito  tarde para reagir…e o país ficará espúrio e errante... 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

frases simples ...

Jerónimo de Sousa é um político simpático para a generalidade dos portugueses.
Independentemente das suas opções  ideológicas é um homem recto, do povo, firme nas suas convicções, abnegado e lutador. No debate, na Assembleia da República, sobre o Orçamento afirmou duma forma assertiva  que o primeiro ministro" não sabia o que era a vida."
Este, aturdido, reagiu com dificuldade. Esta  frase simples, muito popular tem uma uma força telúrica própria da simplicidade dos povos.Na generalidade os nossos políticos não sabem o que são as agruras da vida.Provenientes das camadas sócio-económicas mais previligiadas , estribando-se nas estruturas partidárias, vão tomando conta do Estado e repartindo os benefícios pelos seus apaniguados. Eles não sabem o que é a vida do povo, mas sabem muito bem a vida que têm e que querem perservar.

domingo, 9 de outubro de 2011

a força do olhar


Olhar simplesmente, por vezes é doloroso:

É como cinzelar uma escultura na sua parte final; é como aquela pincelada dúbia e incerta na tela que gostamos muito; é como lavrar a terra onde florescem árvores férteis que adoramos; é tão doloroso como enfrentar uma página de branco lancinante que se esboroa num ápice sem torrentes nem ideias ; é como o padecer da águia no cimo da montanha para reiniciar novo ciclo de vida ; é como a turbulência das águas que apaziguam no alto mar; é como o esforço das abelhas no transporte do pólen ; é como caminhar com a certeza de nunca chegar….

ciclo...

O caminho faz-se caminhando! O futuro constrói-se hoje alicerçado no passado...varias gerações percorrem o mesmo caminho ... as árvores essas estão lá ...sempre... com o seu perfume ...com o seu aroma...com a sua dignidade ...sempre de pé...

sábado, 8 de outubro de 2011

mãe


 gosto de poesia : da grandeza do pessoa , da musicalidade do eugénio de andrade, do telúrico torga,da serenidade de sofia ,da impulsiva natália  mas tu mãe , és o cálice da flor que enebria o meu ser .

doce neblina...

 desde o  vale à montanha, da marginal do rio à frescura das ribeiras, dos inóspitos riachos que serpenteiam as serras até às profundezas dos mares, das flores silvestres que inebriam os nossos sentidos, tu és a luz do luar refletida na manhã calma e serena que  apazigua e reconforta a nossa alma.

domingo, 2 de outubro de 2011

rio Irrawaaddy salvo

Governo autoritário birmanês cedeu à constestação popular gerada pelos planos de construção da barragem hidroeléctrica Myitsone.
As críticas uniram ambientalistas à  etnia kachin visto que tinham de ser deslocadas 60 aldeias, devido à construção da  barragem.
O rio Irrawaddy é considerado o berço da povo birmanês e da sua civilização.
Perante um Governo Democrático não fomos capazes de salvar o Rio Sabor. Dói...

nova margem

O significado aqui de margem é abrangente: a margem do rio, a margem do papel branco, a margem do poder, a margem da vida, a margem de mim, a tua margem, a margem do finito.
Fernando Pesooa disse num seu poema que o rio não pode esconder que corre. E as margens do rio caudaloso de Pessoa podem-se esconder? Nesta margem onde criei raizes, continuam a deslizar os pequenos riachos impregnados de sonhos adiados, onde a frescura das neblinas envolvem as lutas diarias feitas de esperança, amarguras, sorrisos e desânimos, seiva sempre presente no fio de luz derramado exactamente no mesmo minuto de todos os dias, naquela oliveira milenar!
Ainda a margem dos dias e das noites, a margem daquela criança sem tempo de ser criança, a margem sem direito a ter margem. Qual a outra margem? Há sempre uma outra Margem ...Perscrutar a outra Margem ,sentir outra maresia, ouvir outros sons, remar é preciso...para a outra Margem, apesar da certeza do afogamento das margens do Sabor.

A energia do nosso contentamento


A procura desmesurada da energia tem consequências venais para as próximas gerações.

Depois do carvão, do petróleo, do gás, do urânio chegou a vez da água. Os rios são agora sacrificados perante o altar do consumismo. O rio Sabor, lindo, selvagem vai brevemente ser imerso e correr ao contrário….

Rio Sabor


nascido em espanha, rápido sulca as fragas esverdeadas do nordeste e no seu serpentear ora subtil ora agreste, atravessa lugares inóspitos, montanhas pedregosas onde insinua neblinas matinais, emergentes do esvoaçar da águia real cuja majestade marca presença celeste, e molda a geografia de uma região . Este é o rio da nossa matriz transmontana, o rio que moldou toda uma região, cujas águas amenizaram o sangue, suor e lágrimas dos nossos avós. Este é o rio livre, selvagem que vai deixar de ser.