
Com a conquista do território aos árabes, adquiriram-se também os seus modos, usos e costumes. A forma de medir a quantidade dos cereais era através duma medida chamada alqueire. No reinado de D. Afonso Henriques, utilizou-se o alqueire exactamente de acordo com a medida usada já pelos arábes, que correspondia a 3,5 litros de cereal. A sua utilização generalizou-se pelas diferentes regiões do reino, no entanto cada localidade adaptou-o de acordo com a sua organização social, cultural e económica.Tentou o nosso 1º Rei, uniformizar o alqueire em todo o reino, mas não conseguiu. Foi mais fácil vencer os mouros do que padronizar as medidas do alqueire.
Sucederam-se outros reis, tais como D. Afonso IV que decretou que o alqueire deviria corresponder a 8,7 litros em todo o reino, mas cada região teimosamente usava o seu alqueire. D. Pedro I o justiceiro, alterou o alqueire para 9,8 litros, mas de igual modo não conseguiu impô-lo. Seguiu-se a Reforma Manuelina com o seu alqueire já nos 13,1 litros, mas o povo não cedia. Cada local tinha o seu alqueire e não havia nada a fazer. Mesmo depois do terramoto de 1755, o marquês de pombal alinhou com o alqueire usado em Espanha, mas também resultaram infrutíferas as suas tentativas da aplicação a todo o país. Seguiu-se a tentativa da República e o Estado Novo, mas debalde.
É que o alqueire foi
também usado como medida de superfície, e esta era medida de acordo com a
semente que levava um alqueire, que era espalhada no terreno.Cada vila do reino
tinha a sua forma de medir os terrenos e mexer nisto, era como tocar na alma do
povo. Conforme a região o alqueire podia medir entre 13 litros a 19 litros. As
populações deslocavam-se para comprar sementes, às vilas aonde fosse maior o
alqueire.O preço do alqueire pouco ou nada variava entre localidades, a medida é que
era diferente.
Nem mesmo o
sistema métrico ofuscou o alqueire. Finalmente este cedou , por imperativos
comerciais ditados pela conquista de outros mercados, ao sistema internacional .O alqueire, como outras medidas
agrárias, estavam assim indissociávelmente ligadas à vida da gentes
rurais. Curioso foi o episódio, protagonizado por um senhora duma aldeia de
tras-os-montes, vestida de negro com lenço e um feixe de lenha à cabeça, indagada
por um jornalista vindo da capital, se ela ia votar na assembleia
constituinte, decorria então o ano de 1976. Ela respondeu afirmativamente. -E sabe o
que é a assembleia constituinte ? retorquiu o jornalista.-Eu não senhor, não
sei ! disse a senhora.- E o senhor sabe o que é o alqueire? atirou mortífera a aldeã.
Interessante. Sabia que o alqueire é uma medida, como sabia que variava de terra para terra, até mesmo do mesmo distrito, mas desconhecia alguns destes pormenores. Obrigada pela partilha.
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